Documentário alemão exibe o vexame de Bolsonaro em Davos

Em 'O Fórum', presidente brasileiro é visto ignorando ativista do Greenpeace e falando sobre planos para explorar a Amazônia com EUA

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O ex-presidente dos Estados Unidos Al Gore aborda Jair Bolsonaro e diz ser grande amigo do ambientalista brasileiro Alfredo Sirkis. Bolsonaro encolhe-se e responde: “Lá atrás fui inimigo do Sirkis, na luta armada”. Gore espanta-se, reage (“Falei com a pessoa errada”) e entra no assunto principal: “Estamos todos profundamente preocupados com a Amazônia”.

 

O presidente brasileiro encolhe-se mais: “A Amazônia não pode ser esquecida. Temos muitas riquezas. Gostaria muito de explorá-las junto com os Estados Unidos”. Gore responde que não entende o que ele quer dizer. Bolsonaro retruca: “Gosto muito do povo americano. Conheço o senhor, não somos inimigos, precisamos conversar”. Gore para de conversar e se afasta.

Pouca gente aborda Bolsonaro no local, a sala de espera concorrida para mais um debate do Fórum Econômico Mundial de 2019, em Davos, na Suíça. Uma delas é a ativista do Greenpeace Jennifer Morgan. Bolsonaro nem sequer se dá ao trabalho de responder a ela. Guarda silêncio e ela se afasta.

Essas são apenas algumas das passagens apetitosas para espectadores brasileiros contidas no documentário alemão O Fórum, dirigido por Marcus Vetter. Segundo afirma o diretor, é a primeira vez, desde a fundação, em 1971, que um cineasta teve acesso irrestrito aos bastidores do evento fundado pelo alemão Klaus Schwab.


Vetter filmou colado em Schwab por um ano, iniciando dentro da edição de 2018 e terminando na de 2019. O Fórum reúne anualmente presidentes de paí- ses e presidentes de grandes corporações mundiais. De um lado vêem-se detalhes íntimos das passagens de Donald Trump, Angela Merkel, Theresa May, Justin Trudeau, Giuseppe Conte e outros. No outro, reluzem CEOs de marcas como Siemens, Nestlé, Roche e British Petroleum.

 

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O documentário dá ênfase às questões climáticas e ambientais. Reflete, mas não deixa de expor, a jogada de marketing dos “senhores do universo” na vã tentativa de humanizar o evento, passarela para os bilionários do mundo, cada vez mais ricos. Inclui, entre outros, momentos de ataque à elite financeira mundial, das reivindicações de taxação das grandes fortunas e, como bem sabe Bolsonaro, às denúncias ambientais variadas.

O presidente brasileiro começa a aparecer na metade do filme, com o noticiário internacional sobre sua vitória nas eleições de 2018. Prepara-se o cenário para a entrada do vilão do momento (na ausência de Trump em 2019). Uma música fúnebre de fundo acompanha as primeiras aparições de Bolsonaro.

Vexames à parte, o Brasil protagoniza outro trecho do documentário, quando Schwab conta que, em 1973, o convite a dom Hélder Câmara (“muito de esquerda”) causou boicotes e ameaças, e várias empresas deixaram de participar em retaliação à presença do arcebispo brasileiro. Como mostra o filme, é essa índole que vários executivos tentam disfarçar hoje em dia, em palestras a favor da natureza.

“O Fórum”, de Marcus Vetter, pode ser visto nas plataformas digitais a partir de 15 reais.

 

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